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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Rochas da Serra de S. Pedro


Acho que toda a gente gosta de ver certas rochas, por isso hoje trago-vos uma pequena exposição de rochas muito interessantes que nós temos na serra de S. Pedro, em Forninhos, rochas que parecem caras e outras animais, que poderiam ser assinalados como referência para os visitantes e também ser aproveitadas para fazer uns postais. Exemplos: se repararmos nos postais turísticos da Serra da Estrela, a imagem mais destacada é a 'Cabeça do Velho" seguida da "Cabeça da Velha".
Nós também temos "O Velho" e outros...


Este conjunto de rochas de homens tem encantado dezenas e dezenas de visitantes/caminhantes. Quiçá seja o retrato dum povo que ali viveu há muitos séculos ou milénios.  Avista-se do caminho de S. Pedro.
Mas do outro lado já parece uma manada de animais.


E esta a seguir? Não parece um crocodilo ao sol? Só que aqui não há crocodilos pode ser um lagarto gigante!


Também temos um tubarão


e uma metade de pão tipo cacete!


Já esta é designada como "Penedro do Gato", que se pode avistar do caminho dos "Cuvos Cimeiros", na penedia das "loijas".


Do nosso concelho talvez sejamos a aldeia com mais variedade destes elementos graníticos naturais e lendas a eles associadas, como a "Cadeira do Rei", que já a contei AQUI e que deve ser tão antiga como a própria ocupação humana, mas existem rochas como as aqui postadas que sugerem formas e figuras e tal como os nossos antepassados o fizeram, cabe-nos também a nós marcá-las.
Às vezes já me custa apresentar aqui ideias, pois todas elas caem em saco-roto, ainda assim fica a ideia.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

VALAGOTES: Coluna Romana


Tem a Freguesia de Forninhos uma anexa - os Valagotes - confiado a Santo António que lá tem capela e festa. Esta base de coluna romana encontra-se no interior dessa capela, cuja proveniência se desconhece, mas a darmos crédito ao autor (ou autores) "do livro sobre Forninhos" pode ter sido trazida da Pardamaia ou de Penaverde, ou mesmo de um sítio próximo dos Valagotes que se desconhece (pág. 33). 
Podem muito bem ter razão quanto a ter sido trazida de Penaverde ou de perto dos Valagotes. O Sr. Pe. Luis Lemos no seu livro sobre Penaverde afirma que no pátio de um senhor chamado António Nunes encontrava-se uma base de coluna romana. "Esteve muito tempo cá fora, junto da parede." "Também no Chão da Torre apareceram em 1966 um troço de coluna romana e outras pedras aparelhadas, quando trabalhadores procediam à abertura de uma vala." Dado isto, foi levado a concluir "Quem sabe ainda o mais que haverá no subsolo daquele chão da Torre! E de todo o povo da Vila!" (pág. 206).
Agora, da Pardamaia (?) que afirmam ter sido há cerca de 2000 anos uma pequena villa romana eu não acredito, pois não existem nenhumas evidências que confirmem que existiu uma villa no terreno abaixo, vulgarmente chamado de Pardamaia e mais ainda que a povoação de Forninhos se desenvolveu ao redor desta suposta "villa".
Olhem bem:
terreno na Pardamaia-Forninhos, pág. 35
Agora publico três ou quatro fotos de comprovadas villas romanas para o leitor comparar e depois então dizer se acham que o terreno da Pardamaia esconde vestígios de um sítio romanizado!!!

Detalhe da villa romana de Frielas, concelho de Loures

Detalhe da Vila Romana de Pisões (Beja)
Detalhe da Villa Romana da Falagueira, Amadora
Conímbriga, perto de Coimbra

É uma pena que na obra que intitularam "Forninhos a terra dos nossos avós" tenha existido outros interesses, sobrepostos aos interesses de Forninhos e dos forninhenses.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Alambique - Aguardente

Depois dos cachos apanhados e pisados e feito o mosto, que serve para encher os pipos, hoje para as vasilhas de inox, fica o canganho que vai servir para fazer a aguardente bagaceira. Na nossa aldeia é tarefa que uma ou outra pessoa ainda vai fazendo nos alambiques artesanais. Já aqui mostrei algumas imagens e por isso dispenso-me de as repetir, vou apenas publicar uma dum alambique mais moderno que havia em Forninhos e que fazia a aguardente muito mais rápido. Apareceu ali por 1969/1970, era o alambique do Sr. Amaral (posteriormente pertenceu ao Sr. Antoninho Bernardo).


Mas antes de mais, quero lembrar que quase todas as pessoas de Forninhos trabalhavam no campo e de sol a sol, a agricultura era de sobrevivência, cada qual cultivava para si, mas havia duas ou três 'casas' de famílias ricas que davam trabalho todo o ano e tinham rendeiros. Para além disso também tinham lagares de azeite que, em dois meses por ano, ocupavam cinco ou seis pessoas. O mais antigo era o do Sr. José Baptista, no ribeiro da Eira, digamos. Depois, o do Sr. Luísinho que funcionava na Ribeira. Alambique, havia um só: o do Sr. Amaral.
Naqueles tempos da minha infância, Forninhos devia ter uns 400 habitantes e ainda vinha ali gente das redondezas fazer aguardente e eu bem me lembro vê-lo a funcionar e do cheiro.
Hoje desse alambique já só restam as paredes e a maioria das pessoas faz a sua aguardente nas Cooperativas da zona: Sezures e Rãs.
Tudo acaba e tudo é vendido a particulares. Sejam lagares de azeite, moínhos, fornos, alambique...

Por fim, aconselho uma visita sua a este post «a nossa aguardente». 

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

VÃO COMEÇAR AS VINDIMAS

Quase se atamancavam no transpôr da porteira para entrar no pátio e dizer o bom dia que anunciava que haviam chegado para o desejum da vindima: chouriça, farinheira, queijo, vinho e bagaço, num belo mata bicho! E...tal acontecia pelas sete, variando com o tempo.


Quem imaginaria que um dia o roncar dos tratores, iria turbilhar as memórias das donas da vindima caseira e quase familiar que tinham por obrigação ir primeiro na frente escolher os melhores cachos - o Jaé e Moscatel - cujas videiras escondidas vinham do tempo de seus avós...
«Estariam os cachos nas videiras, assim rezavam...».

Nesse entretanto já a irmandade calcorreava os caminhos íngremes e esburacados rumo a Valongo, melhor, ao Castiçal, mais acima, como que em procissão atrás do carro das vacas que acarrava imponente a dorna ainda vazia, se bem que segurada a preceito. O lavrador sabia a mestria dos que a prenderiam.

No socalco abaixo do alto da vinha ainda existe quase sofucada por mategado, uma figueira de figo preto riscado e no outro arreto a seguir, uns pessegueiros de aparta caroço que o tio Joaquim Branco e o Forra estreavam na vindima, ainda a pingar da orvalhada.
No pinhal, ao lado, estacionava o carro das vacas, retiradas e presas aos pinheiros circundantes, enquanto demorava o acarregar dos canastros nos ombros dos mais afoitos para entornar na dorna, ao som de cantorias por ser dia de festa. Era dia de vindima e como tal soltavam a desgarrada...Ó Moscatel, és um vinho sem igual...e dorna cheia, havia que fazer o mais difícil: levar tal por carreiros de seixos e pedregulhos sulcados e vincados pelas chuvas de inverno, com medos, mas com mestria.
Duas sacholas fortes e seguras, prendiam o topo da dorna e tal guiando para não entornar e porventura dai o termo de adornar, pondo em risco a vida dos homens afoitos, animais e mosto.
Chegados ao lagar, coisa para quem sabia. Dependia do lagar da sua boca de entrada e altura.
O do meu pai era fácil por ser de entrada baixa, mas o do meu avó Francisco, um bom lagar, era alto e carecia de gente ainda mais capaz que além de saber manejar uma dorna carregada de cachos com milhares de quilos, tinha de ter um bom lavrador a manejar o gado.
Houve uma ou outra altura a beijar a desgraça, mas passado o susto o que diziam (já mais descansados) era que virar um carro de caruma, de estrume ou de milho, era mais fácil de acontecer.
Entre um copo de regresso para a vinha, acabavam por levar a piqueta para o pessoal, a sardinha frita, as fritas e aquelas iguarias entre as quais mais um garrafão que havia que despejar, pois o novo já se fazia anunciar. A hora era a que o tempo mandava, seco ou molhado e o dono ditava se partiam para outro lado mais enxuto e depois voltavam para acabar o resto.
A janta, era quando tal aprouvesse, com os restos da piqueta e quem para tal pudesse, acrescentado com batatas e bacalhau.
E esta gente, sentada na sombra do pátio, apenas começava a comer quando ouvia o último grito dos homens ...
DEIXA TAMBOLAR A DORNA!
Não havendo gritos a seguir, a vindima tinha corrido bem e seria comemorada a preceito na noite caída, na pisa do lagar com muitas cantigas em louvor do senhor vinho.
E no fim, depois do lava pés, não cantava o maior galo da capoeira, pois estava há muito na panela pronto para comer!

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O milho paínço


Porque está em vias de extinção e há o perigo de, quando as gerações mais antigas de agricultores desaparecerem, esta espécie agrícola ser esquecida, questionámos algumas pessoas idosas de Forninhos sobre o nome e suas origens, mas a informação apurada é escassa, sabendo-se apenas que a sua plantação era bastante frequente nos idos da década de 1940 e 1950. Segundo disseram era um milho sem espiga, que se semeava ali por Março nas terras secas e colhia-se em Julho e não necessitava de água de rega, nem de sacha, basicamente não era para a alimentação humana, mas sim para a alimentação dos animais, a maior parte para o gado de bico.
Com a chegada do milho grosso, a palavra simples - milho - passou a ser usada para este, mas o "velho milho" era designado de milho-paínço. 


De onde nos chegou então o milho paínço?
Li que é mais antigo que o arroz, a cevada, o trigo ou o centeio, é oriundo das Índias Orientais e do Norte de África e que a sua utilização continua a ser comum em lugares como a Etiópia, onde o prato nacional - Injera - é feito com farinha de milho paínço.