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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

VÃO COMEÇAR AS VINDIMAS

Quase se atamancavam no transpôr da porteira para entrar no pátio e dizer o bom dia que anunciava que haviam chegado para o desejum da vindima: chouriça, farinheira, queijo, vinho e bagaço, num belo mata bicho! E...tal acontecia pelas sete, variando com o tempo.


Quem imaginaria que um dia o roncar dos tratores, iria turbilhar as memórias das donas da vindima caseira e quase familiar que tinham por obrigação ir primeiro na frente escolher os melhores cachos - o Jaé e Moscatel - cujas videiras escondidas vinham do tempo de seus avós...
«Estariam os cachos nas videiras, assim rezavam...».

Nesse entretanto já a irmandade calcorreava os caminhos íngremes e esburacados rumo a Valongo, melhor, ao Castiçal, mais acima, como que em procissão atrás do carro das vacas que acarrava imponente a dorna ainda vazia, se bem que segurada a preceito. O lavrador sabia a mestria dos que a prenderiam.

No socalco abaixo do alto da vinha ainda existe quase sofucada por mategado, uma figueira de figo preto riscado e no outro arreto a seguir, uns pessegueiros de aparta caroço que o tio Joaquim Branco e o Forra estreavam na vindima, ainda a pingar da orvalhada.
No pinhal, ao lado, estacionava o carro das vacas, retiradas e presas aos pinheiros circundantes, enquanto demorava o acarregar dos canastros nos ombros dos mais afoitos para entornar na dorna, ao som de cantorias por ser dia de festa. Era dia de vindima e como tal soltavam a desgarrada...Ó Moscatel, és um vinho sem igual...e dorna cheia, havia que fazer o mais difícil: levar tal por carreiros de seixos e pedregulhos sulcados e vincados pelas chuvas de inverno, com medos, mas com mestria.
Duas sacholas fortes e seguras, prendiam o topo da dorna e tal guiando para não entornar e porventura dai o termo de adornar, pondo em risco a vida dos homens afoitos, animais e mosto.
Chegados ao lagar, coisa para quem sabia. Dependia do lagar da sua boca de entrada e altura.
O do meu pai era fácil por ser de entrada baixa, mas o do meu avó Francisco, um bom lagar, era alto e carecia de gente ainda mais capaz que além de saber manejar uma dorna carregada de cachos com milhares de quilos, tinha de ter um bom lavrador a manejar o gado.
Houve uma ou outra altura a beijar a desgraça, mas passado o susto o que diziam (já mais descansados) era que virar um carro de caruma, de estrume ou de milho, era mais fácil de acontecer.
Entre um copo de regresso para a vinha, acabavam por levar a piqueta para o pessoal, a sardinha frita, as fritas e aquelas iguarias entre as quais mais um garrafão que havia que despejar, pois o novo já se fazia anunciar. A hora era a que o tempo mandava, seco ou molhado e o dono ditava se partiam para outro lado mais enxuto e depois voltavam para acabar o resto.
A janta, era quando tal aprouvesse, com os restos da piqueta e quem para tal pudesse, acrescentado com batatas e bacalhau.
E esta gente, sentada na sombra do pátio, apenas começava a comer quando ouvia o último grito dos homens ...
DEIXA TAMBOLAR A DORNA!
Não havendo gritos a seguir, a vindima tinha corrido bem e seria comemorada a preceito na noite caída, na pisa do lagar com muitas cantigas em louvor do senhor vinho.
E no fim, depois do lava pés, não cantava o maior galo da capoeira, pois estava há muito na panela pronto para comer!

36 comentários:

  1. Xico, adoro te ler.Tens um jeito todo especial de nos contar sobre tudo de lá e a víndima deve mesmo ser um belo momento. Meu marido fazia com os avós na Itália e nunca esqueceu! Fazia também a colheita de olivas... abração,chica

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    1. Obrigado Chica.
      O jeito vem do cheiro da terra e dos nossos mais velhos que nos ensinaram a venerar e respeitar.
      E a ternura com que ja aqui falou do seu marido, como que o transporta par o nosso Forninhos, tais as similaridades dos latinos.
      Fim de semana feliz para os dois.

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  2. Muito interessante este relato. Nunca assisti a uma vindima. Na Seca, os caseiros, e o gerente faziam vinho todos os anos. Havia um lagar comunitário. Meu pai não tinha dinheiro para fazer vinho, mas sempre ia ajudar os que faziam, com o descarregar das camionetas de uvas e a pisa no lagar. Anos mais tarde, com os filhos a trabalhar, ele também começou a fazer vinho todos os anos. Comprava a uva em Palmela, Pegões ou Vila Franca.
    Era sempre dias de festa, mas naquele tempo, não nos deixavam, a nós mulheres, entrar no pavilhão do lagar. Diziam que podíamos andar estragadas (com o período) e depois estragávamos o vinho. Diziam que depois o vinho fervia em todas as luas até que azedava. Coisas de antigamente.
    Um abraço e bom fim de semana

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    1. Entrei no pavilhao do seu "lagar" sem pedir licenca , por isso as minhas desculpas, mas encontrei uma das origens de "casamento" perfeito. O vinho e o bacalhau.
      Havia lido as partes da sua "A historia de um par de botas...e o estado", maravilhosamente escritas e por curiosidade fui vasculhar o nome Seca, pensando numa aldeia simples ribatejana, estranhando a escassez de uvas, ainda por cima numa regiao afamada e abencoada pelo deus Baco.
      Agora percebi, Seca da Azinheira, Seca do Picado, na Ponta dos Corvos...
      Na Azinheira Velha se faziam as naus que entre outras coisas carregavam, presumo, entre outras coisas pipas de vinho.
      Mas na Seca, as vinhas tinham dono e os trabalhadores, alem do preparo do bacalhau, ainda tratavam do vinho. Dos outros...
      Ainda bem que o Senhor seu pai mais tarde conseguiu fazer o seu vinho de uvas compradas numa das melhores regioes de portugal, Palmela.
      Adorei a sua referencia sobre aquelas coisas do antigamente...
      Bem haja Elvira e bom final de semana. Abraco.

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  3. Adoro os modos e maneiras de dizer, usados pelos nossos pais e avós. Em Forninhos o jantar era CEIA; o almoço era JANTAR.
    Outra coisa que adorei ler foi sobre os cachos que as donas da casa e da vindima colhiam, pois os cachos que existiam nas nossas vinhas eram brancos, vermelhos, pretos e por norma escolhiam as castas mais adequadas para esse efeito, como o moscatel, o jaé, o cachudo. Por tal, custa-me ler, sobre a história de "Forninhos, a terra dos nossos avós", em que a vindima era feita com carros de bois e dorna (até publicaram uma foto do meu avô materno com o carro de vacas e uma dorna) e depois dizem-nos a nós (netos) que a touriga nacional é a casta de excelência que confere ao vinho atributos únicos! Quem nasceu e cresceu em Forninhos bem sabe que na nossa terra a estrutura das vinhas e das castas era orientada não para a produção de vinhos especiais, mas apenas para a produção de vinho caseiro e colheita de uvas para consumo próprio! Presentemente, só nas produções mais especializadas, é que as vinhas são formadas por videiras todas da mesma casta, inclusive a touriga nacional, e não por essa mistura.
    Estou como diz acima a chica "Tens um jeito todo especial de nos contar tudo de lá" e o teu texto e a foto contida na referida "monografia" desperta memórias e esse é o papel mais importante, mas a gente Forninhos infelizmente não tem olhos para ver.
    Boa vindima para todos!

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    1. Das maneiras de dizer e que bem me lembro, era aquela em que ainda o chao com gelo, o tio Antonio Carau e o meu pai Alfredo se encontravam.
      Perguntavam um ao outro se ja tinham "matado o bicho". Quatro figos secos e dois calices de aguardente que estalava e no abrir da boca, fumegava, chamando o bom tempo que clareava ainda o galo cantava. Madrugadores estes serranos preparados de antemao para a comanda que viria para o almoco e fortalecidos para a tarefa que sabiam de antemao ser dura, mas festiva. Ao menos!
      Falas Paula, e muito bem sobre o escolher dos cachos pelas donas da casa. Uma preocupacao que vinha logo desde as primeiras vindimas anunciadas em que uma vez por outra em estremas proximas se "enganavam" e os moscateis desapareciam e por tal, dia sim, dia nao, estas mulheres iam vendo se as uvas especiais ali continuavam. Cachos de pendurar como que decorando o tecto das salas e quarto, presos em pregos com fios e que durariam ate ao Natal, que mesmo que borolentos e meia duzia escolhida, trazia no inverno um pouco do sabor do tempo quente. E saudade, pois claro!
      Entre estes, os cachudos brancos, moscatel, jae, borrado das moscas (um doce) e o colhao de galo, variedade rara que o sr. Antoninho Bernardo dominava na sua coutada.
      Tens toda a razao aquando te referes aquilo que teimo em chamar de "coisa", melhor, daqui para a frente "coisinha" que rima com mesquinha.
      Saberiam porventura estes doidivanas que casta significa "coisa pura e sem misturas"? Claro que nao. Quem teria na altura em Forninhos a possibilidade e conhecimento para tal, nem o sr. Amaral .E usam aquela magnifica foto do teu avo?, Talvez tenham acertado, pois se bem me lembro era esse senhor, sim, de uma casta nobre em todos os sentido, mas nenhum deles jamais havia esfregado nas maos os atritos de dor e de amor dos forninhenses, ainda por cima acolitados por um Careca que nem sabe de que terra vinha, quanto mais a dignidade e sabedoria dos nativos.
      Pelo menos desejo que tivessem aprendido algo e que agora se passeiem na "Terra do Nunca...".
      Que nela se percam e nao voltem, pois saudades...
      Tirando e ainda bem para os mais jovens empreendedoras que disto fazem uma parte grande do seu sustento, na modernizacao actual, havia que aproveitar os fundos comunitarios e sendo Forninhos uma terra de excelencia e apta para a producao vinicula, era pertinente seguir as regras impostas, mas...
      O que me da gozo, tem por matriz, aquela coisa a que gostaria de chamar de rebeldia por tao genuina.
      Aquelas gentes na casa dos seus oitentas...e tais, que ainda vao metendo um bocado de estrume ao toro de videiras que viram plantar e criar aos seus pais. Verdade!
      Que rezam e fazem benzeduras aquando das trovoadas, no medo que tudo se perca.
      Que nos entretantos contam dos tempos em que quando a Guarda passava junto aos cordoes de videiras, pelos lameiros e os multavam por cultivar o morangueiro, por ali chamado na altura de vinho americano. Proibido d comercializar e bebido apenas nas escondidas..
      E o outro, o bom, a seguir a revolucao dos cravos, ia para a Russia a tostoes.
      Que a vil malandragem aqui coloque o olhar e se pergunte se fizeram um bom trabalho para os nossos avos que, esses sim, perdurarao sempre na nossa memoria. Os de ca e os outros merecedores dos nossos respeitos, pois cepas, como diz o escritor...
      "O que é bonito neste mundo, e anima,
      É ver que na vindima
      De cada sonho
      Fica a cepa a sonhar outra aventura…
      E que a doçura
      Que se não prova
      Se transfigura
      Numa doçura
      Muito mais pura
      E muito mais nova…".
      Miguel Torga

      Obrigado Paula.

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    2. Felizmente que há pessoas como tu a escrever sobre a vindima, não aquela profissional, mas a caseira, a de festa em família e amigos, a vindima dos nossos avós!
      Ainda hoje, em Forninhos, a maioria das vindimas destinam-se ao fabrico do vinho caseiro de modo artesanal, ao escreverem o contrário, ao dizerem que os homens que se ENCARREGAVAM de pisar o vinho, converteram-se em meros espectadores de um processo totalmente mecanizado é pura mentira e, para mim, só quer dizer que existiram interesses, sobrepostos aos interesses de Forninhos e do meu, do teu,dos nossos avós!
      Esses, os nossos avós, é com sempre digo, ficaram intercalados no meio de nada! A foto do meu avô materno é um bom exemplo...só não vê quem não quer. Basta, para tanto, comparar a pág. 92 (foto) com o pág. 93 (texto).

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  4. Um texto rico de acontecimentos que envolvem a vindima!
    Gosto muito de coisas que falou aqui: uvas, vinho, bacalhau...
    Como é tão lindo apreciar as videiras!...

    Atividades feitas com entusiasmo e experiências... Gostei, Xico!
    Abraços p vc e Paula... Bom sábado!

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    1. Ainda bem que vai sobrevivendo a verdadeira festa da vindima no seu modo ancestral
      Quase nem se da pelo trabalho neste convivio de amigos e familiares que continuam a partilhar a camaradagem entre si.
      "Hoje a minha, amanha a tua...la estarei.".
      Um abraco, Anete.

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  5. Um magnifico texto sobre as vindimas minha amiga e estamos no tempo delas, quando era mais novo era raro o ano que não fazia as vindimas umas vezes na apanha da uva outras na adega pesando r recolhendo o mosto para verificar a graduação.
    Um abraço e bom fim de semana.

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    1. Olá Francisco,

      Este magnífico texto é do XicoAlmeida, mas as cenas são quase universais, pois o vinho está em todo o planeta, embora cada região tenha as suas particularidades.
      Forninhos encontra-se na região demarcada do vinho do Dão, se um dia passar em na nossa terra, tem de provar o nosso vinho!

      Bom fim de semana e um abraço também.

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  6. Deve ser uma delicia Bjbj Lisette.

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    1. Pode crer!
      E entao quando toca a depenicar uns bagos frescos destas castas centenarias...
      Beijos

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  7. Vindimar é uma tradição secular associada à alegria do convívio e de partilha!
    Por aqui ainda se fazem e gosto de assistir e participar!
    A minha já acabou...pois comemos os cachos todos!!! =)
    Um domingo bem BOM!!!

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    1. E a sua acabou em boa hora e deduzo que no tempo proprio. Quando soube bem...
      Porventura dos trabalhos campestres mais alegres e genuinos.
      Um dia de festa, com mais ou menos cachos, mas com uma imensa partilha e feliz de quem ainda tem a "sorte" de andar na vindima dos familiares e amigos.
      Um grande abraco.

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  8. Pois, também tenho que lá ir fazer a minha, até estou com medo, três semanas mais cedo que o ano anterior. Vamos ver o que vai dar.
    Já agora (da coisinha) tanoeiros? Pipos de carvalho? Vi fazer muitos a meu avô Carau (carpinteiro) mas castanho. Carvalhos para fazer leivas e batoques aonde os havia? Enfim.

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    1. tenho "pincelado" por aqui muitas vezes o carinho que nutro pela tua familia. Artistas puros e genuinos que deviam e devem ter uma consideracao publica, mas enfim... manda quem pode, mas apenas OBEDECE QUEM QUER.
      Apenas te deixo um pequeno excerto de algo que por aqui escrevi, na simplicidade de quem adora o seu torrao natal...
      '...Naltura de tirar o vinho do lagar, já o meu amigo ti António tinha preparado as pipas que meu pai pedia para consertar. A umas a falta de aduelas, outras arcos e nas mais velhas, mudar uma leiva, seja, uma tábua dobrada para o vinho novo não verter.
      Não era um Kit, era preciso ter sabido escolher a madeira, serrar e depois...o que me intrigava, ele fazia uma fogueira e com as tábuas ainda verdes cortadas e meticulosamente esquentando no fogo a madeira, esta ganhava forma de modo a ficar ajustada ao milímetro. O vinho estava salvo e com garantia do Mestre.
      Ciência pura e genuína...".
      Abraco, Henrique e nao te apoquentes com a vindima, a passarada tambem foi criada por Deus!

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    2. O autor começa por trazer-nos o presente, dizendo que os pés esmagam bagos; para abaixo dizer-nos que os homens que se encarregavam de pisar o vinho, converteram-se em espectadores de um processo totalmente mecanizado.
      Fala dos esmagadores? Ou de equipamentos tecnológicos para a vinificação do vinho?
      Será?
      - Já não digo nada!
      Depois é como bem observou o Henrique....até o vinho ser devidamente acondicionado nas pipas...os produtores e tanoeiros!!! encarregam-se de escolher as melhores tábuas de carvalho!
      Enfim...
      É verdade que agora utiliza-se o esmagador, mas os homens ainda fazem a pisa com os pés que é para aquecer o mosto, uma vez que o esmagador o não faz!
      E, se é do presente que falam, então era bom que se escrevesse que no séc. XXI, os pipos, as pipas ou tonéis QUE ERAM DE CASTANHO (e não de carvalho), praticamente desapareceram e foram substituídos por cubas de aço inox.
      Só gente sem tino nenhum é que escreve e deixou escrever o que se escreveu!

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  9. O vinho é cultura
    O vinho é Amor
    Nasce da uva e da baga
    A cultura do Amor......

    Gente de trabalho e luta
    Parte manha cedo ao luar
    O dia da vindima é festa
    Em Forninhos do Lugar......

    Nasce a uva perto do Dão
    Nas nas encostas voltas para o Céu
    Rezemos á Senhora dos Verdes
    Um dia de tirar o chapéu.......

    Que merenda merece. esta gente
    De Forninhos lá longe no Dão
    Levam ao nome a todo o Mundo
    Na garrafa Forninhos com pão........

    Tragam mais morcela e chouriça
    Para o lagar virado pr" o luar
    Ninguém dorme esta noite
    Em Forninhos meu doce lar......

    A.M G

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    1. Amigo Antonio (permita a intimidade), louvo o seu carinho por Forninhos, minha terra natal e pelos vistos sua.
      Coisas que vejo em cada quadra escrita, a seu modo e no seu sentimento.
      "... De Forninhos lá longe no Dão...".
      Tal sinto e comungo, ainda mais nos pormenores que descreve como que com saudade, um dia de vindimas.
      Vim a saber a sua presumivel ligacao a Forninhos e alguns contornos que tanto o marcam.
      Em Forninhos meu doce lar...

      Aceite um forte abraco!

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    2. Estimado Xico Almeida

      A minha vida tem cinco etapas distintas....
      Forninhos fez parte da Segunda...
      Estou na Quinta...

      Imagine , o meu caro , que me roubaram com o divórcio ( os meus 3 filhos !!!!! ) e oito anos depois tenho uma "sogra" natural de uma aldeia a 25 km de Forninhos e estou integrado numa familia onde adoptei três crianças , um enteado , uma sobrinha e um sobrinho !!
      ( passámos uma semana no Algarve com futebol de 1 pelo meio !! )

      Sendo ilhéu a Beira Alta está , assim , no meu caminho !!!
      Daí sublinhar , que, " Grilos " á parte , Forninhos marcou - me pela positiva porque uma ovelha não pode estragar um REBANHO !!

      Desde o homem que sabia onde fazer furo para a água...desde a mãe do Zé Antonio que me ensinou a fazer aguardente ....desde a apanha da batata....desde a apanha da azeitona ...desde andar de trator....desde ir ao Fontelheiro buscar lenha....desde ir ao rio ( ribeiro !!! ) com os meus filhos.....e subir a encosta.....desde o sofrimento e o drama dos incêndios...desde acompanhar o pensamento politico do Sr.Samuel em tempo de campanha eleitoral contra o poder instituido, para um ilhéu que nasceu no meios dos poios ....FOI BOM DEMAIS ( !! ) e aqui fica o meu Obrigado , pela hospitalidade !!!

      Tudo o resto , ando de cabeça erguida e a Forninhos voltarei quando
      Deus permitir !!!

      Parabéns pelo BLOG , acho-o Fantástico !!!!!!!!

      Abraço para todos
      AMG

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    3. Um sincero bem haja, penso que dos muitos forninhenses que acompanham este Blog e sao muitos.
      Ha gentes ali nascidas que menosprezam as suas origens e outras, que tal homenageiam sem interesses.
      Fico extremamente sensibilizado pelo carinho que coloca nos seus modos descritivos de pessoas e locais, como que tornando real, melhor, trazendo de volta o presente de outrora.
      E memorias de nos proprios nas nossas vidas.
      Cada local que refere, tem um pormenor, senao vivido, pelo menos contado por alguem e basta tal ouvir e mais tarde contar aos nossos filhos, fazemos parte dele.
      Felizmete conheco os locais e as pessoas que refere, apesar de durante anos andar meio ausente.
      Por tal, dos "Grilos" recordo, falando dos vizinhos dos meus pais, o tio Antonio.
      E o dia em que faziam uma chamine na sua casa. Vinha da escola primaria de Forninhos, andava na primeira e estavam a pintar a data.
      1964!
      Nunca de tal me esqueci, apesar de um incendio tal ter destruido anos mais tarde.
      Mas dos vizinhos, tal como do tio ze Guerrilha e outros, o dia das vindimas era uma festa.
      Sigamos em frente e um grande bem haja, amigo Gouveia.
      Pormim, em Forninhos e por la andando, sera sempre recebido com um abraco.

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    4. Estimado Xico Almeida

      Os anos 30/40 foram horriveis.
      Não só em Forninhos , mas em todo o Interior e Ilhas.
      A miséria era brutal e deixou marcas profundas.
      As noites e tardes de frio e chuva a cuidar os rebanhos , longe da aldeia
      sem o minimo de condições . O alcool . As casas pobres e humildes
      com os animais por baixo.
      A fuga para Lisboa ou para França ( os madeirenses como o meu avô Joao foram para o Curaçao e para Venezuela ) deixou para trás poucas saudades. Compreende - se de algum modo , essa falta de " brio " pelas
      origens. Quase que de forma natural a Vida encaminha-nos e o passado " negro e duro " vai sendo esquecido !!
      Sou filho de um homem que passou fome entre 40/50.....comendo com os meus tios e tias papa de milho com favas todos os dias !!!
      Vieram também as guerras em que estivemos envolvios até 74....
      e que marcaram muito dos seus conterrâneos !!

      Por outro lado , admiramos sempre , mais ( !!! ) a paisagem e os costumes de outras terras e paragens .
      Por muita que a nossa terra seja bonita ....e bela , ir á descoberta faz parte de uma forma de ser ....
      Nunca me esqueço da primeira vez que comi" batata a murro" e da primeira vez que vi fazer azeite....e bagaço , coisas que na minha terra era impensável !!
      Percebo e respeito os forninhenses que ignoram a importância deste blog ...mas continuem em força que a vossa voz não terá fronteiras !!
      " Santos da casa neste caso fazem milagres "

      Bom tinto . Com paz e Amor .Hei-de bebê-lo em Dezembro trazido pelos tios da companheira !!

      Até outro dia !!
      Abr
      AMG

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    5. Ate esse dia e que podendo seja em breve .
      Estou a ficar mais ou menos sediado com o seu "drama", mas deixe que diga que nao sou muito bem visto.
      Na "imandade" dos ricos ...
      Como entene, aqui neste blog que se pauta com um sacrificioque poucos imaginam, nao podemos alimentar coisas pessoais, mas de tais nao podemos olhar de soslaio.
      Amor por Foninhos, evidente
      O resto, fica aqui e de modo tao emocional, aquilo que transmite, que aspira.
      Ate Breve!

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    6. Obrigado Xico ,

      Obviamente, a mensagem passou ....obrigado !!
      Forninhos é muito... muito mais, que qualquer história pessoal....
      O problema , ás vezes , é casar - se com mulheres que detestam tudo .....mesmo as nossa origens ...foi o que aconteceu ao Julio " Grilo" ...e a mim.......infelizmente !! Passemos á frente !!!!

      Vamos ( SÓ !! ) falar de Forninhos , suas gentes e valiosa história.!!
      Se puder ajudar......tenho 50 anos e ja não vou a Forninhos desde Julho de 2006 ....a m/ memória com 25 anos de carreira comercial na " infernal Lisboa " já me vai faltando !!!

      A)
      Recorde-me o nome do senhor que com um vime de oliveira curvado sobre os ombros, descubria os lugares onde havia água ( para posterior furo ) !! Continua bem ???

      B)
      O senhor do café ( acima do Martinho ) que sem ler nem escrever ponha de pé uma casa....! Impressionante ! Continua bem ??
      Dois " mestres " ...pelas minhas contas, na casa dos 80 anos os dois ??
      Já dei voltas e mais voltas ao meu " computador" mas não consigo recordar-me do nome deles . Mera curiosidade !!!
      Conheci-os por volta de 94/95 .......??

      C) A outra curiosidade é sobre as " Termas da Cavaca" . Fizeram alguma coisa ?? Ou está tudo abandonado ???
      Do meu ponto de vista , havendo empenho , seria , com num esforço de todas as entidades , seria , repito , uma atração , um roteiro de que Forninhos podia beneficiar ....! Digo eu .??

      Na minha terra a água é muita . Corre pelas levadas , ora de noite , na quinzena seguinte de dia , á mesma hora. Ou seja , eu acordava pelas 2 da manhã para ajudar a minha falecida mãe ( Maria José ) a regar o feijão, a " semilha" , a. batata etc . de laterna , para ver quando chegava ao fim do rego , e passar para os seguintes. Era o filho mais velho ....
      tinha de ajudar....com 9 /10 anos ....obviamente com temperaturas bem mais simpáticas que em Forninhos . Nunca menos de 9. graus positivos em Dezembro/Janeiro. Os meses mais frios .. .....mas sempre com nevoeiro.....
      Tinhámos duas horas de água . Além da rega enchiamos o poço para abastecer a casa.

      Quando cheguei a Forninhos , com pouco mais de 25 anos e vejo esse " mestre " de vime na mão, a pisar o terreno , e a garantir que ali haveria água ....fiquei em estado " de choque " culturalmente mais rico !!!
      Nunca mais me esqueço mesmo se chegar ao 100.....

      Abr

      MG

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  10. Ouço histórias de vindimas, apesar de nunca ter assistido a nenhuma.

    Lamento, pois deve ser bem interessante.

    Beijinhos.

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    1. Se vale a pena, mas daquelas de amigos ou familiares.
      Por onde resiste ao tempo aquela magia de festa partilhada.
      Vai rareando mas ainda se encontra, tal como na minha terra.
      E daqui a de dias, la irei...
      Beijinho grande.

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  11. Boa noite Xico,
    Um primor este seu texto descritivo das vindimas e de todos os rituais que a envolviam!
    Como sempre muito bem escrito e adornado de aromáticos e saborosos petiscos, mas cá para mim mesmo depois de jantar ia uma canja desse galo na panela, de tal forma que até lhe sinto o aroma,))!
    Galo do campo “verdadeiro” é o meu prato preferido de todos os tempos!
    Claro e aqui não posso deixar de referir o vinho que o meu avô fazia e a aguardente que a minha avó com dedo para ela fazia num alambique (durante a noite) na adega de uns amigos, pois que um alambique não era todos que o tinham;)), assim como o lagar!
    Foi muito bom recordar.
    Beijinhos e uma boa semana.
    Ailime

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  12. Minha querida amiga Ailime.
    Quase parece e ainda bem, que depois de tanto tempo nos reunimos nas vindimas!
    Nos mesmos gostos e recordacoes. Cheiros e sabores. E saudades...
    Cada qual a seu modo, adorna (ao tombar da dorna....), o que lhe vai na alma.
    Um emaranhado de gentes amigas, cantorias num ritual antigo sem despudor, brejeiro e cativante que esperaria um ano para voltar, assim Deus tal prouvera.
    Se a festa da vindima era de todos os...o pisar das uvas no lagar era "deles", assim sempre fora feito e por tal seria "pecado" a coisa ficar melindrada.
    Era e sempre tinha sido assim!
    Poucas adegas com lgar se podiam dar ao luxo de matar o galo para a ceia dos pisadores, mas podendo e felizmente no nosso caso, era o culminar de um ou mais dias de festa que teria a prova final no dia de S. Martinho.
    Antes, iria trabalhar como a minha querida amiga refere, o alambique, o nosso, mesmo por debaixo da cozinha, encostado aos degraus das escadas e ali se passavam noites historicas, no vacilar da candeia a petroleo, no petisco de um bocado de bacalhau na brasa e uma batata assada, enquanto os artistas da arte iam bebericando da provadeira o teor da Agua. Ardente.
    Beijinho.

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  13. Boa tarde, nunca tive a oportunidade de assistir ás vindimas, todos os anos são anunciada na comunicação, contente-me com o belo texto sobre as vindimas.
    AG

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    1. Par nos que como que nascemos junto ao toro das videiras, quase que ficamos perplexos por outras gentes, tal como o amigo, nunca terem assistido e muito menos participado, mas gentes da minha terra existem que jamais viram o mar...
      Mas existe sempre um tempo e...um lugar!

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  14. Oi Xico e paula!
    Gostei muito do relato sombre as vindimas, fico imaginado, o esforço, mas também a alegria e a fartura dessa colheita, que na chegada, depois do cansaço, enfim podiam comemorar com vinho, sardinha frita e bacalhau, uma verdadeira confraternização, ondem todos juntos poderiam dar boas risadas de contentamento, gostaria de poder está por lá num dia assim, ah!
    Beijos!

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    1. Ainda se vao ouvindo alguns e brincadeiras, mais da garotada que se encosta aos mais velhos para ouvir estorias num dia de festa.
      Vao restando poucas criancas no interior, mas adoram ver, ouvir e participar.
      Partem menos ensonadas que os adultos pelo frenesim e numa ansiedade genuina, levando na mao o pequeno balde e uma tesoura, na expectativa da sua jorna.
      Procuram os mais bonitos e muito fazem, sendo que na "mastiga" ou almoco, o que mais pedem na mesa tem por nome Coca Cola.
      Coisa que ainda agonia os mais velhos que brindam o fim da colheita com um belo tinto!
      Beijinhos, Fatima.

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  15. Parecem cenas de um filme! E conseguem fazer-nos imaginar com perfeição, a labuta das vindimas. Gostei muito de rever expressões como a dorna, o mata-bicho, a piqueta...e a referência sobretudo ao bacalhau e ao galo que já poderia estar na panela!
    A TVI por acaso, tem mostrado pequenas reportagens sobre as vindimas em vários pontos do país, realçando as particularidades de cada zona. Muito interessante para mim, que nunca participei nem sequer assisti a vindimas...:-)
    Excelente relato, Xico!
    xx

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    1. Filme de memorias, melhor, bocaditos de infancia...
      Tenho participado na vindima de familia e na proxima semana por la andareii.
      Um dia especial por tudo o que esta festa envolve e acarreta.
      Gosto de me colocar junto aos mais velhos que soltam momentos de estorias do tempo deles em termos que por vezes parecem um dialeto proprio e por maioria das gentes, desconhecido.
      E perguntando o que algumas palavras querem dizer, olham resignados ou abespinhados como que sem soltarem palavras dizerem "andaram a estudar para nada...mal empregado dinheiro".
      Mas depois no orgulho da sabedoria que sabiamente vence a juventude, num sorriso rasgado de herois, vem a "traducao".
      Dizem eles que a vindima nao acaba no comer o galo, guardado para o final da pisa, enquanto as suas mulheres (galinhas) iam para o tacho conforme as enfermidades da casa
      Nem acabava no lavar dos cestos, conforme o ditame popular.
      Acabava apenas no alambique, onde seria cremado o que restava das uvas e cachos, depois de bem triturados.
      Acabava na aguardente!
      Uma alegria enorme ter a Laura de volta.
      Beijinho.

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    2. Maravilhosa infância, Xico!
      E como é bom continuar ainda hoje perto dessa gente que por vezes tem de traduzir tanta coisa importante a quem andou a estudar para nada!...Não, para nada, mas para muito pouco propriamente.
      Obrigada, Xico.
      xx

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